Aprendendo em toda situação

 

É muito difícil manter a fé e o mesmo interesse pela palavra de Deus, assim como se entregar da mesma forma aos propósitos do Senhor, quando as coisas não estão indo como desejamos. Temos predileção pelos acontecimentos lineares, burocráticos, com pouca variação. Gostamos de controlar a forma como os eventos se desenrolam em nossas vidas. Não raramente, encontramos alguém que está fora de equilíbrio exatamente devido a um transtorno que lhe aconteceu; pode ser a coisa mais simples do mundo ou a mais complicada. Perdemos o controle da situação e, quando isso acontece, parece que o mundo ao nosso redor se desmorona, e nada mais passa a fazer diferença em nossa caminhada. Aquela atitude de coragem, desbravamento e conquista retroage a um nível inicial de decepção. A maioria das pessoas não admite ser contrariada.

Escrevendo aos crentes em Filipos, o apóstolo Paulo aponta um caminho totalmente divergente do que estamos acostumados. Ele apresenta um caminho feito de várias interferências, da própria vida, de Deus e de nós mesmos. Ou seja, para Paulo, o caminho não é reto e construído apenas sob uma perspectiva de vitória, flores, euforia, abundância e fartura, que nos leva a celebrar todos os dias; pelo contrário, para o apóstolo haverá momentos de intensa luta interna e externa, e as coisas não sairão como planejamos. Há pessoas que pensam que o cristão não pode sentir tristeza, solidão, chorar ou sentir saudade, exatamente por ter uma visão distorcida da palavra de Deus.

Paulo afirma: “sei estar abatido”. Veja que afirmação pesada vinda de um dos maiores expoentes do cristianismo. É preciso entender que o que merece destaque nessa afirmação não é a palavra “abatido”, mas o verbo “sei”. Ao longo da sua caminhada cristã, Paulo já havia aprendido algumas coisas que, para alguns, parecem sem importância, mas que para ele formavam a sua identidade de vida com Deus. A vida é um grande aprendizado e precisamos ser bons alunos. Não podemos insistir sempre nas mesmas coisas, cometer os mesmos erros, trilhar sempre os mesmos caminhos e tomar sempre as mesmas direções quando já fomos advertidos de que a atitude deve ser outra. Por isso, o apóstolo Paulo sinaliza que já aprendeu a viver, levando em consideração as várias nuances que a vida lhe ofereceu.

Não adianta ficar batendo a cabeça por aí; precisamos aprender com as experiências que a vida nos oferece. E Paulo vai mais longe e afirma: “em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído”. A vida não para que possamos descer e consertar o que está errado; é durante o movimento do trajeto que fazemos as correções de percurso. Será que o seu mau humor não é fruto da falta de apropriação do conhecimento que a vida já lhe ofereceu? Esta angústia, este desespero, talvez seja a sua resistência em compreender que as coisas não irão acontecer exatamente como você deseja, mas dentro do que é possível. Passar fome, ter necessidades, não é um sinal de que Deus está punindo você, assim como ter fartura e abundância não significa que Deus está aprovando a sua conduta. É preciso aprender a viver.

A vida não é feita apenas de ilusões, fartura, barriga cheia, comida na mesa, dinheiro no bolso, muitos amigos e saúde para dar e vender. Precisamos entender que estamos matriculados na escola da vida e, para não sermos reprovados, devemos decifrar os recados que os acontecimentos nos mandam. Enfim, entenda que, sobretudo, Deus é soberano em nossas vidas. Isso significa, entre outras coisas, que Ele dá a palavra final sobre nós. Portanto, não fique se debatendo contra ela; simplesmente aprenda o que ela quer te ensinar.

Seja humilde, sente-se na cadeira da vida e aprenda com o Mestre Jesus.

“Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade” (Filipenses 4:12).

 

Texto: Marcos A L Pereira