Como meninos na praça...
A cada dia, percebo com mais
clareza que a nossa geração se tornou uma das mais indecisas de todas. Vivemos
à procura de razões para continuar caminhando, mas, paradoxalmente, tropeçamos
nos mesmos questionamentos que se repetem, se alongam, se eternizam, e, no fim,
não nos conduzem a lugar algum. Pensamos, planejamos, discutimos, mas a nossa
evolução interior parece não acompanhar a velocidade dos avanços científicos e
tecnológicos que nos impressionam. Conseguimos enviar máquinas ao espaço, mas
ainda tropeçamos nos abismos da alma.
Há uma expressão simples, mas
profundamente verdadeira: “ficar amassando o barro”. Ela traduz bem o comportamento de
quem se esforça intensamente, mas permanece no mesmo ponto, preso a um ciclo
que não produz fruto. E, de certa forma, Jesus identificou comportamento
semelhante em sua própria geração ao dizer que eram como meninos que se assentam nas praças, chamam uns aos
outros, reclamam, discutem, mas nada decidem (Mateus 11:16).
A praça, nesse sentido,
representa o lugar das conversas intermináveis, das opiniões sem compromisso,
das propostas que nunca se transformam em escolhas. Ali, muitos falam; poucos
assumem. Há sempre aqueles que contestam tudo, recusam tudo, rejeitam qualquer
direcionamento, por melhor que seja.
No texto bíblico, essa indecisão
aparece de forma evidente. Diante de João Batista; austero, disciplinado,
sóbrio, diziam que tinha demônios. Diante de Jesus; próximo, acolhedor,
presente à mesa, acusaram-no de comilão e beberrão. Ou seja, não era uma questão sobre quem pregava, mas sobre um
coração incapaz de se posicionar. Nunca estavam satisfeitos. Sempre encontravam
um motivo para não se comprometer.
E não é exatamente esse o retrato
de grande parte da humanidade hoje? Vivemos em cima do muro, esperando um
convencimento absoluto que nunca alcançará. Chega uma hora em que é preciso
decidir... Decidir quem seguimos... Decidir onde firmamos nossos pés... Decidir
de que lado ficamos quando a fé nos chama para amadurecer.
Enfim, não dá para viver
indefinidamente como os meninos da praça; dispersos, indecisos, analíticos ao
extremo, mas sem coragem de assumir uma direção. Posicionar-se, na maioria das
vezes, não é confortável. Exige firmeza, renúncia, determinação. Exige encarar
a multidão, e até a própria insegurança, para caminhar segundo aquilo que
cremos.
Texto:
Marcos A L Pereira
Comentários
Postar um comentário